"Fazemos musicas simples para espíritos complexos" * texto por Jesúino André ,publicado originalmente no www.meusonsblogspot.com
Seu nome original é estranho - The Silvias: 20h Domingo - e sua música nada normal para o padrão local. Ainda assim, The Silvias, como melhor é conhecida, é um sopro de novidades para o cenário meio apático de João Pessoa (tirando meia dúzia de bandas, impera a mesmice). Thiago Sombra veio da banda rock Junkpile, de curta existência, para montar algo experimental, fugindo do padrão básico. Juntou-se com o tecladista Bruno e o multi-instrumentista Thiago Verde e afundou-se despretensiosamente no experimental kraut-rock, no minimalismo progressivo alemão do Tangerine Dream e do Gila; rascunhos da modernice pós-rock e beirando até o lisérgico floydiano. Resultando numa surpreendente primeira gravação contendo quatro faixas herméticas de difícil degustação. O caráter sonoro contemplativo e viajante do grupo toma direção ideal após mudanças no seu line up, com a inclusão marcante de uma percussão a cargo de Cassiano (também Chico Correa Eletronic Band), alguns efeitos eficientes e excelentes inserções da vocalista Daniela. As significantes mudaças clarearam o direcionamento musical e novas perspectivas para a banda. Conversamos com Thiago, via e-mail, que nos explica melhor:
Me diga quando começou o The Silvias, o porque do nome e quem são os integrantes.
Em meados de 2002, graças a gravações caseiras, pois as musicas surgiram de "jams" que fazíamos. O nome é tirado de uma música que Ronnie Von gravou na década de 60.(na fase obscura que havia o programa de TV "O Pequeno Príncipe" pela Record). Queríamos um nome que soasse Sgt.Peppers no tamanho, sabe? Os integrantes são: Verde nos samplers, turntables e outras coisas; Bruno nos teclados; Cassiano com as percussões; Daniela Alejandra nos vocais e Thiago Sombra: baixo e violão.
Como vocês definem a sonoridade da banda? Quando pensaram em fazer esse tipo de som?
Essa é a parte difícil. Acho que somos "etéreo" em tudo que tocamos: lounge, dub, experimentalismos. Não sei, acho que nos encaixamos nesse novo gênero chamado "post-rock". O pensamento esteve sempre pendente. Quando nos conhecemos, Bruno, Verde e eu, tínhamos muito em comum. Inclusive com relação a um tipo de som que poderia sair se juntássemos as nossas idéias. Começaamos a nos reunir a primeira vez em junho de 2001, com Rodrigo (co- fundador e ex-integrante) e começamos a tocar, a fazer jams e graças a um gravador (simples mesmo) conseguimos depois de um longo tempo que esse projeto ficou em stand by, reproduzir as tais jams, e assim surgindo o The Silvias.
Essa abordagem sonora não é muito comum na cena pop e rock local. O que vocês acham fazendo um som tão diferente dos demais?
É bom...Mas ao mesmo tempo dar a insegurança de não ser bem interpretado. É verdade também que hà uma falta de espaços adequados para nossa música. Devido a cena local e tudo mais. Mas apesar disso percebemos que hà um público seleto pra nossa música. Procuramos também outros canais para divulgação, que tente levar nossa música além de shows. Gravações são muito importantes para isso!
Quais a principais influencias musicais brasucas e gringas da banda?
Acho que daqui do Brasil tem o Jupiter Apple, Flu, Mutantes (lógico!), Tom Zé. Pô, muitas coisas. Mas creio que nossas influencias sejam mesmo de bandas de fora, sabe. Como o Tortoise, Portishead, Mogwai, Kraftwerk, Radiohead, Air, Beck, trilhas de filmes, Pink Floyd (claro!) e o Can (som recentemente apresentado pelo amigo do meio Jailson de Assis). As influencias vão além da própria musica eu creio. Temos muito da literatura e arte envolvidas nos climas das musicas...Assim como cinema, logicamente!
Hoje em dia a produção independente é bastante considerável, vocês acreditam num mercado independente forte?
Sim, e temos que acreditar. É o canal que temos pra apresentar nossa arte. Creio que sem a produção independente, bandas como a nossa estariam totalmente perdidas!
O que é necessário para uma banda nova começar a se destacar?
Isso é sempre muito complicado. Mas originalidade sem dúvida é a coisa principal. Mesmo com algo novo e legal, existem outras mil coisas para que você consiga o destaque necessário. Como apoio, divulgação e claro, um envolvimento no meio. Tem que haver cena! Sabe, tudo tem que se interagir: público, lojas, discos, moda, festas. Eu vejo muito disso na cena do Rio Grande do Sul, onde as bandas tocam no rádio, tem lojas pra elas e shows, e claro, público ativo!
A banda tem alguma dificuldade em fazer música em João Pessoa?
Com certeza! Bandas que fazem uma música "normal" já tem mil dificuldades aqui. Então sofremos muito mais, por fazer uma música que esta a margem disso tudo. E como falei anteriormente, falta cena.
Quais os projetos imediatos da banda?
Sim, no momento estamos gravando nossa segunda demo. Em processo caseiro mesmo. é uma demo que vem mostrar a outra face do The Silvias. Um lado mais lounge e cancioneiro, sem deixar o experimentalismo de lado, logicamente; mas mostrando a versatilidade de composiçãos da banda. Além disso tentando expor nosso trabalho pra festivais. Procurando algum buraco e algumas doses de fluoxitrina! hahahaha!
Algum recado para os leitores?
"Fazemos musicas simples para espíritos complexos", parafrasear Oscar Wilde é o que hà.