quinta-feira, novembro 25, 2004


8ª Edição do FESTIVAL PUNKA - 22 E 23/10/04 - Espaço EMMES – ARACAJU/SE
(publicado também no Coquetel Molotov)

Eitta que o Punka já deixa suas marcas: orgulho e alegria destes dias 22 e 23 de Outubro.Como canta a Sulancapisa maneiro, quem não pode com a formiga, não mexe no formigueiro”, realizar este festival numa árida região onde prevalecem as efemeridades musicais, tem que ser uma galera “arroxada” para meter a cara e arriscar. Tem que ter muito amor pra peitar um evento destes, tem que ter muito espírito rock para fazer uma caravana de Salvador para cá, tem que ter muito amor pra compor “Veja Só” do Ronei Jorgen& Os Ladrões de Bicicleta, tem que ter muito amor para curtir e apresentar-se como o Rodrigo Sputter, vocalista do The Honkers, tem que ter muito amor para durar mais de uma década fazendo noise pop de qualidade como a sergipana Snooze e tem que ter muito amor para tocar em quatro bandas durante todo festival como o Babaloo(Triste Fim de Rosilene, Please No!, Da Boca ao Reto e Effe).

O EVENTO

Foram dois dias de celebração.Celebrando com hardcore, heavy metal, trash metal, punk brega, sixties, mod, yê yê yê, guitar band, noise, muito noise, rock garageiro, blues, mangui hits, stoner rock, power pop e até pista de dança............resultado: foi PUNKA cara!
Amparados por uma estrutura digna de grandes festivais, o festival disponibilizou dois palcos, conjugados, onde as bandas se revezavam , aparelhagem de som de primeiro time (o que só contribuiu para as performances), praça de alimentação, espaço para esportes radicais, stands de vendas de cds/afins e o espaço para o Punkatronics, ou seja, pista de dança onde rolou de tudo um pouco, destacando o indie rock que comeu solto. Enfim, todo o aparato para o conforto prometido, fielmente cumprido.

O primeiro dia, 22, foi dedicado, em sua maioria, as porradas hard/metal. Cercado de expectativa e ansiedade, vou para o festival armado de alegria e disposição.No primeiro dia, quem abre as apresentações é a banda Urubules, de Itabaiana-SE, com um som coeso e forte, jorram riffs musculosos de guitarras numa apresentação que encheu os olhos pelo feeling e sinceridade. Ponto para o blues.Na seqüência, PLEASE NO! e o seu brega/punk, o brunk, que eu tanto ansiava ver ao vivo, já que o primeiro EP dos cachaceiros eu já havia escutado e gostado. Apesar da aparelhagem de som do evento está boa, a apresentação não me empolga muito, não sei ao certo, mas ficou a impressão de que não entendia nada do que o vocal cantava, mas o trabalho dos “cabas” é bom e tem tudo pra evoluir mais ainda.Os rapazes estão com cd novo na praça, intitulado “ 5 Reais Pra Fazer Caridade”

Logo após veio ELOQUENTES, com certeza a maior revelação deste festival, simpáticos e um tanto tímidos, chamaram atenção pela qualidade de suas melodias, sixties com um pé no mod e recheado de amor. Muito bom mesmo, remetem direto àquelas bandas gaúchas que adoram rock sessentista. No show,aproveitaram para divulgar seu primeiro cd “Sistema Nervoso”.

E neste clima de canções de amor....fui logo me preparando para o show do Triste Fim de Rosilene. Hehehe, tratei logo de avisar aos amigos soteropolitanos:”se preparem que agora é porrada”. Dito e feito. Hardcore sem frescura e nem burocracia.... é ligar os aparelhos e sentar o pé. Daniela, a vocalista, é o tempero ideal pra combinar com a barulheira. É barulhento, esporrento, com um baterista que um é rolo compressor. Faz um bem danado, desopila mesmo. Adorei o show.

Ainda tonto após o show do TFR, vi subir ao palco a banda baiana LAMPIRÔNICOS, que fez um bom show, bela presença de palco do vocalista, som forte e ritmado. Não chega a me empolgar, mas que foi um bom show, isso foi.E é bom perceber a evolução presente no novo trabalho deles. E, dando seqüência aos ritmos regionais, quem se apresenta é o SULANCA , conhecido e histórico grupo de musica regional, que embala ritmos tradicionais de Sergipe num formato pop e animado. A apresentação foi em alto astral, as canções animadas, dançantes. O show ainda teve a participação do Agapito, folclórica figura, numa espécie de jam session.

Aí veio o tipo de porrada que não me chama muito a atenção, metal clássico adicionado de protesto: WORDS GUERRILLA e WARLORDS. A performance é eficiente, ambos são grupos históricos no rock sergipano, mas não chegam a me animar. Merecem todo o respeito pelo trabalho e pela batalha que é o rock por aqui.

Daí veio o GARAGE FUZZ, um dos shows mais aguardados pelo punka em suas cinco edições, são verdadeiros monstros do hardcore nacional, com vários anos de estrada e, principalmente, respeito do público e crítica. E a estrada gerou segurança e maturidade.Com uma apresentação firme e animada, desfilaram seu hardcore, típico de quem gosta do verdadeiro hardcore, terra onde o Fugazi é um rei. E o GARAGE FUZZ é da mesma escola, com bastante sinceridade e inspiração. Já eram mais de três da manhã, quando sobre ao palco o metal do TORTURE SQUAD. Cabelos enormes, roupas pretas, cozinha poderosa...sim, este é o metal.

Veio então a segunda noite e com ela aconteceram os melhores shows: SAMBACAITÁ, vencedora do PRÉ-PUNKA (que selecionou uma banda novata pra tocar) abriu a noite, com seu som mangue bit advindo de Chico Sciente/Mundo Livre aditivado com reggae, cujo resultado ainda não empolga, talvez por soar demasiadamente como as influências, talvez pelas letras ainda soarem pueris, o fato é que os garotos ainda têm uma longa estrada a percorrer. O rap da FAMILIA ATIVISTA vem na sequência, que me agrada pela agitação das canções, belos scratchs e letras engajadas. Depois veio EFFE....trilham na cartilha do Emocore, são garotões, trilhando a mesma estrada de um monte de bandas por aí a fora. E este é justamente o problema.O show foi bom, faltando ainda aos rapazes injetarem um gás pessoal para acharem uma cara deles.

Foi então que tivemos inicio ao show dos baianos do THE HONKERS. Tirando o topete e vestimentas pró-rock de Rodrigo, dignas um roqueiro inglês, os camaradas passariam despercebidos como pessoas normais. Porém, de normais eles não têm nada. Basta o show começar para termos a certeza que estamos presentes a uma banda que entende e aplica os preceitos do verdadeiro espírito rock and roll: diversão em larga escala. Mais do que isto, eles se divertem, executando um show garageiro, virulento, energético. Malandro, que é isso?! A energia toma conta da platéia fazendo-as agitarem , naquele que foi o show com maior participação da platéia, excetuando-se é claro os LH. Rodrigo Sputter é um show á parte. Misto de frontman e platéia, há momentos em que achamos que o público é ele mesmo, tamanha alegria e despojamento. Tem presença de palco, espírito rock, canta bem e claro.....tem peso: furou até o palco. Coitado dos Los Hermanos, não sabem onde Sputter passou o microfone que eles usaram em seu show.......

É a vez do LACERTAE, os lagartos sergipanos sempre foram conhecidos pela criatividade e experimentalismo e foi com isto que nos brindaram em seu show. Nunca tinha visto um show deles, e gostei. Bonito ver a qualidade e o volume do som que apenas dois caras conseguem fazer. Foi o primeiro show após as gravações do seu segundo cd. Foi então que veio a VAMOZ, provando com seu show o já alardeado no seu disco: rock fodão, stoner rock, guitarras ferozes e melodias fortes. Belíssimo show, possuem uma técnica muito eficiente. Foi bonito ver uma galera de frente para o palco acompanhando e cantando as canções do disco. “Letter “ e “Beside” foram as minhas prediletas. OGANJAH....caramba, infelizmente não ouvi muito,pois tive que sair.

Mas, voltei a tempo para ver os preparativos para o início do show do Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.Caramba, que show, que apresentação, dava pra perceber o quanto o Ronei estava feliz em tocar, ainda mais em tocar em Aracaju. A música salta aos olhos e ele deixa-se levar pela emoção e prazer que é estar no rock. Sem mencionar que a cozinha do Ronei Jorge é excelente, destacando o guitarrista. Só fiquei na vontade de que ele reprisasse “Veja Só”, “Obediência” e a cover de “Paralelas” do Belchior. Prestem atenção nesta banda.

Foi a vez da SNOOZE. Verdadeiros ícones do guitar/noise de Sergipe, o show é resultado de tudo que andam fazendo atualmente e que pode ser conferido no single que foi lançado no festival. Com o noise pop ainda mais afiado, interagindo ainda mais com o power pop e até com gaitas, tudo diluído com eficiência e inspiração, resultando em pérolas como “Fado”. O show foi bem animado, a banda está mais a vontade no palco, o que fortalece a execução de hits como “My Gramophone”, “Coming Up Stairs” e “Fado”, destaque para a jam da banda com Rodrigo Sputter, na cover do THE WHO. Longa vida para os camaradas, logo logo teremos disco novo deles, ueba!!!

Com o público empolgado e a esta altura bem numeroso, o Los Hermanos faz uma apresentação recheada dos seus hits religiosos, daqueles cantados numa voz apenas pelos fãs. Destaque para “Santa Chuva”, que ficou conhecida na voz de Maria Rita.

Beleeeeza...Assim a banda Los Hermanos encerrou a segunda noite e também a oitava edição do Punka, festival destinado a abrigar artistas independentes e que neste ano teve como marca registrada a qualidade das bandas e a competência dos organizadores, gerando um evento de altíssimo nível. Foram mais de 5 mil expectadores, mais de vinte bandas e no final um largo sorriso: valeu a pena, deixando a certeza que ARACAJU merece sim estar na rota dos grandes festivais.

please


Please No! -5 Reais Pra Fazer Caridade (2004)


"Largado no Beco do Submundo da Paixão", seu primeiro disco, foi vendido durante a Punka 2003 e rendeu o título de banda revelação daquele ano e muitos fãs por onde os rapazes passam. Para o Punka 2004 prepararam este "5 Reais Pra Fzer Caridade" e a diversão continuou , com os mesmos ingredientes e a mesma farra.
Propondo fazer um som que eles chamam Psycho-Love brega, o disco esta recheado de canções onde a dor de cotolovelo é a ordem e há espaço para pitadas de escatalogia em interpretações bem escrachadas e adicionadas de vodca.A preocupação é uma só: diversão.E a julgar pela canções e sua performance ao vivo, os rapazes se divertem e muito.
Misturando rock com o melhor do brega, podemos dizer que o som deles é um Bebum com Brega, um punk brega, um brunk.Esta é apenas uma tentativa de defini-los ou apenas mais uma busca de entendimento.Deixa pra lá, peguem o disco e escutem.Se o primeiro disco tinha hits como "Cachorro Rabicó" este também ofereçe "Mulher Funerária" e "Mulher do Tabaco", engraçadissimas.

Please No! é formado: Diego no vocal, Alexandre Marreta na guitarra, Lúcio Poconé no baixo, Thiago na bateria e BOB no trompete.

2004 - 5 Reais Pra Fazer Caridade
01. Enamorados
02. Instrumbrega
03. Mulher da Funerária
04. Mulher do Tabaco
05. Minha Amada Conceição

A GRANDE ABOBORA


A Grande Abórora - "Tudo O Que Você Me Disse"(2004)

O Rock na bahia tinha tudo pra não gerar frutos.
Terra onde o axé & cia dominam, espaços para shows são cada vez mais restritos.Porém, só o rock é capaz de reagir na dificuldade, a história esta ai pra provar com Raulzito e cia todo o poder que o velho e bom rock é capaz.Atualmente a Bahia vive um grande momento, com dezenas de bandas de qualidade, shows contínuos e até figuras carimbadas do underground na grande mídia(vide a Pitty). Ou seja, o estado já esta mais do que pronto para abrigar um festival, ser incluido no circuito de grandes shows e tudo mais que uma grande estado mereça.

Destes novos, podemos citar Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, The Honkers, Sangria, Los Canos, Soma, Partido Alto, Satélite do Amor e A Grande Abóbora.Sim, A Grande Abóbora, esse sexteto(?) oriundo do campus da Faculdade de Comunicação da Universidade Católica, é mais uma força do rock baiano, misturando samba com rock num patamar mais cerebral. Seu cartão de visitas é este EP com 06(seis) canções e eles são bem vindos.

Formado por Penna (vocal e guitarra),Fernanda (vocal),Johnny (vocal e guitarra),Borrão (baixo),Glauco (bateria) e Eddie (violão), o grupo estréia no meio roqueiro com este "Tudo Que Você Me Disse" , onde o que se sobressai é uma atmosfera anos 80, indo de rock meio sambinha safra Picassos Falsos como em "Exp.Musical" até a enorme "Cartas Marcas" meio hardcore , meio cerebral em seus 10:15 min. Sobressai-se também no som da banda,a poesia, cuidado das letras e o ótimo trabalho da cozinha: coesa e redondinha.Minhas prediletas são "Linguarem Corporal" e "Oi Tudo bem?", contendo esta última um ótimo dueto com Nanda. Ótima estréia destes baianos..e viva a bahia..


1. Linguagem Corporal
2. Dia Cinza
3. Oi! Tudo Bem?
4. O que eu Quero
5. Exp.Musical
6. Cartas Marcadas
Contato:agrandeabobora@yahoo.com.br




sexta-feira, novembro 19, 2004

KOC


Kings Of Convenience
"Riot on an Empty Street"(Astralwerks)(2004)

Sempre me emociono com grandes canções.Música, a boa música, sempre precisa ir direto no sentimento do ouvinte.Seja um punk vibrante, seja camadas flamejantes de microfonia, seja um rockão setentão, seja uma bossa nova...seja o Kings Of Convenience. E acreditem, esta dupla com cara de nerds taradões são ótimos. Pra quem não conhecia, como eu, foi uma surpresa impressionante.

O mago Ian McCulloch já pregava que "musica é magia e mistério" e esta é a melhor maneira de entender como é mágico o som destes Noruegueses. Kings Of Convenience é Erik Glambek Bøe e Erlend Øye, diretamente da Noruega. Este é seu quarto album. Oscilando entre o brilhante e o soberbo, mergulhar em suas canções é sentir-se preso em um mundo repleto de sonhos e romântismo, onde a abstração e o desejo sempre falam mais alto. "Homesick" é típica canção SimonGarfunkeliana, que assombra pela bela sutielza."Misread" tem uma levada Bossa Nova, cortejada por cordas e um piano que tocam nossa emoção."Know How" é ainda mais bossa nova e bela. "The Build-Up", faixa mais introspectiva, tem como grande atrativo a participação de Leslie Feist, do Broken Social Scene.

Nesse ritmo, eu poderia ficar aqui relatando a emoção que se tem ao ouvir todas canções do disco.O melhor mesmo é correr atrás e ouvir este disco.Repleto de referncias sessentistas, Simon & Garfunkel, Bossa Nova... a melhor definição mesmo é associa-los ao Belle & Sebastian, cabendo aí cabe uma pequena correção: o som desta duplas soa mais rico e despojado.Sem o ar blazè do B&S, eles exprimem o mesmo tipo de som e neste disco adicionam extruturas ainda mais ricas .Sublime.

FAIXAS
1.Homesick
2.Misread
3.Cayman Islands
4.Stay Out of Trouble
5.Know-How
6.Sorry or Please
7.Love Is No Big Truth
8.I'd Rather Dance With You
9.Live Long
10.Surprise Ice
11.Gold in the Air of Summer
12.The Build-Up.

quinta-feira, novembro 18, 2004

: BILLY CHILDISH

BILLY CHILDISH

The Friends Of The Buff Medway Fanciers Association
"1914"
Transcopic Records) 2003

Figura cultuada na América, Europa e Japão, descrever o acervo e importância de Billy Childish é, no mínimo, um exercicio de incansável catalogação e sentimentalismo. Dono de um leque riquisimo em diversidade de atividades (pintor, escritor, cantor, guitarrista, produtor, poeta, crítico, editor de fanzine e compositor de estilo único), ele tem oferecido um grande serviço á musica, atuando no elo que liga garage punk e rockabilly.

Bandas? discos? livros? eitta, a folha deste senhor conta com mais de 100 álbuns, 40 volumes avulsos de poesia, escreveu mais de duas novelas e executou mais de 2000 pinturas. É mole? já pilotou bandas como o Pop Rivets/Thee Milkshakes/Thee Mighty Caesars/Thee Headcoats,Thee Stash (gravou album só com covers de The Clash) e o The Buff Medways.

The Friends Of The Buff Medway Fanciers Association ou The Buff Medways (uma raça de galinha criadas em Gillingham exclusivamente para as mesas dos hotéis de Londres antes da Segunda Guerra Mundial) é seu mais recente projeto. Terceiro disco desta nova saga, "1914" da continuidade a sua extensa trajetória nesse misto de urgência criativa e independência, criando verdadeiras pérolas musicas com a veia de autenticidade digna de musicas gravadas nos anos 50/60 e urgência punk. Destaque para "All My Feeling Denied", um rockão empolgante, contendo um riff incisivo, digno da insanidade típica de bandas como o MC5. Podemos citar também "Barbara Wire" que é punk, garageiro, mas punk,urgente e raivoso, como todo bom punk. Existe espaço também para o blues, como em "Evidence Against Myself", cantado como se o Billy estevisse totalmente chapado. E a melhor faixa do disco, "Nurse Julie", hit raivoso, que consegue soar punk, garajeito, sessentista...ou seja, é a essencia do que se convencionou chamar do som que Chilldish costuma gerar: Medway. Enfim, é um puta disco.Rock and roll feito por quem respira a sua essencia: diversão e amor pelo que faz.

Confesso que não conhecia o trabalho deste inglês.Tive o privilégio de ter acesso a este trabalho , assim como muito de seus projetos graças a um de seus fãs e provalmente um de seus melhores seguidores,Rodrigo Sputter, líder do The Honkers. E fico realmente feliz de conhecer o trabalho de uma fígura singular e essencial para o nosso rock como é o Billy Childish. Agradecimentos ao Sputter e ao zine Nuggets(de onde tirei muitas das informações usadas aqui).

FAIXAS:
Unable to see the good
All my feelings denied
Sonya Fagg
Evidence against myself
The least disappointing man
Just 15
Nurse Julie
Saucy Jack
Mons quif (inst)
Barbara Wire
You are all phonies
Caroline




terça-feira, novembro 16, 2004

THE HONORARY TITLE


-The Honorary Title -
"Anything Else But The Truth" Dughouse(2004)

Toda emoção precisa ser explorada e externada.
Numa época onde o exato é o que esta no topo e toda formatação é bem mais explorada e consumida, sempre cai bem uma lapada de sinceridade. Sem cabecismo, tratados e ar blasé, apenas sinceridade. Sim, sinceridade, aquele sentimento é o que melhor define a sensação de ouvir as canções do The Honorary Title.
Oriundo de Nova York, especificamente do Brooklyin, o The Honorary Title é basicamente um duo formado por Jarrod Gorbel (Guitarra e voz) e Aaron Kamstra (demais instrumentos..)."Anything Else But the Truth"é seu disco de estréia, lançado este ano. Anteriormente havia lançado apenas um EP de 06 músicas, de título homônimo a banda. A banda já caminha a passos largos rumo ao grande público. A MTV2 já toca suas canções e calmamente começam a aglomerar mais admiradores. Sem usar de experimentações e busca de um som digamos, inovador, o forte da banda esta nas músicas que remetem para um monte de referencias e ainda sim soam suas. Como gostam alguns, é Indie Rock. As canções do HT lembram um pouco da magia que encontramos em Peter Yorn, Jeff Buckley,Ryan Adam e o mestre Elvis Costello.. ou seja, ora rock, ora baladas.....repletas de belíssimas interpretações e calcadas em ótimas melodias. Diria que é um rock sereno, respirando anos 80/90 e atordoado por emoções deste novo século. Ouça a linda balada "Points Underneath", o tipo de canção para ouvir a dois, juntinho com sua garota, numa daquelas nostálgicas festas onde contato físico e o embalo da música transportam nossa emoção para a fantasia, o sonho e a voz de Jarrod Gorbel transborda emoção. No mesmo nível esta "Cut Short" e "Bridge The Tunnel".Enfim, eis aqui um daqueles discos que te arrebaratão de forma que ficará difícil deixar de fora de qualquer lista de melhores do ano. Imperdível.

Set List do Disco:
01.Frame by Frame
02.Bridge the Tunnel
03.Everything I Once Had
04.Cut Short
05.Points Underneath
06.Anything But Else But the Truth
07.Revealing Too Much
08.Snow Day
09.Disengage
10.The Smoking Pose
11.Petals
12.Cats in Heat


sexta-feira, novembro 12, 2004

SNOOZE

SNOOZE..

SNOOZE - "Single" 2004

Decorreram-se quase dois anos desde Let my head blow up.O que para alguns poderia soar ínicio de ostracismo e começo de um fim, para a Snooze foi apenas um período de preparativos e projetos paralelos.Neste meio tempo, pilotaram o bem sucedido Snoozing Beatles( shows dedicados aos marmanjos, quer dizer, hoje velhos e finados de Manchester), shows comemorativos dos 10 anos ,com apresentações acústicas e trabalho nas novas composições.Novas composições... é ai que mora o trunfo dos rapazes.Conhecidos por sua qualitativa veia guitar pop noise, aos longo de mais de dez anos, os camaradas sempre foram devidamente respeitados pelo excelente trabalho que desenvolveram.

Aproveitando a passagem do Punka , onde fizeram um dos melhores shows do evento,e o fato de estarem com muitas destas novas músicas prontas, resolvem lançar este saboroso petisco intitulado Single com duas canções. Duas canções que servem muito bem como excelente preparativo para o que teremos pela frente.Aliando Jesus& Mary Chain com gaita e Beatles ainda mais latente, resulta nessa nova faceta da Snooze: instrospeção e brilho.O próximo CD tem tudo para ser o melhor.
SINGLES:
FADO
Guitar pop snoozer, com levada de bateria e guitar já peculiar á banda. O misto REM+ HUSKER DU ainda dar as ordens, mas desta vez acompanhado de uma pegada mais soft, mais folk e guitarras mais sujas a lá Jesus and Mary chain.Conhecia a cançõa dos show e me surpreendi com o resultado em estúdio....linda!

The Song Of Our Lives
De tratamento ainda mais introspectivo e popesco, me surpreende pelo brilhante vocal de Fabinho, aqui mais a vontade e com um feeling apurado( nunca tinha parado para pensar, mas o modo como ele cambina, em certos momentos me remete ao belo vocal de Ian Curtis.) e pelo toque da gaita, dando um brilho ainda mais emocional.A influência dos Beatles é cada vez mais latente e usada com inspiração e o final da canção é power pop, no melhor sentido Teenage Fanclub.É a minha canção predileta.

quinta-feira, novembro 11, 2004

THE GO FIND

THE GO FIND

The Go Find – Miami 2004 (Morr Music )

Eitta que os anos 80 estão novamente na ordem do dia. Inúmeras bandas revisitando este portalzinho, festas a turbilhar as noites afora. Resguardada a pura nostalgia, o que mais pesa nesse túnel do tempo é o susto que tomamos ao constatarmos que estivemos lá e os anos insistem em transitar na casa de três dezenas e nós, vivemos a utilizar cada vez mais frases do tio” no meu tempo”,”naquela época”.Aí meu chapa, agora é só ladeira.

O lado bom disto tudo, foi ter a oportunidade de passear por uma época recheada de ótimas bandas, grandes canções e permanecer com a sensação de que éramos felizes e não sabíamos. Porém, para nossa alegria, este espírito esta voltando e existem coisas ótimas sendo lançadas. Coisas como o disco de estréia do THE GO FIND.

Contabilizando 28 anos, o belga de Antuérpia Dieter Sermeus, anteriormente já colaborou com STYROFOAM, apresenta-se agora atendendo sob a alcunha de THE GO FIND e estréia com o excelente álbum MIAMI. Este disco é um conjunto de 10 canções cuja referência principal é recordar, remete a pitadas de New Order encontrando Pet Shop Boys no caminho. Diria até que o conteúdo assemelha-se mais com o que THE POSTAL SERVICE anda fazendo, com o diferencial de ter uma linha mais introspectiva, mais reflexiva. “ Over The Edge”, “Summer Guest” e “What I Want” confirmam tal perspectiva e no final, fica a certeza da beleza consistente de MIAMI, digno de destaque e cuidado. Sim, Dieter fez um disquinho para ser degustado com disprendimento e despreocupação, apenas mergulhando e sentindo a emoção das canções.Belo disco.

1 Over the Edge
2 Summer Guest
3 City Dreamer
4 What I Want
5 Sky Window
6 Bleeding Heart
7 Modern Times
8 The Party
9 Igloo
10 Blisters on My Thumb


por Aldemi Sousa (publicado originalmente no Coquetel Molotov

quarta-feira, novembro 10, 2004

NERVOSO

NERVOSO

Nervoso - Saudades de Minhas Lembranças (mmrecords, 2004)

Se tem um cara que tem pose, estilo e um puta disco na mão e que tem tudo pra estourar, este cara é o Nervoso. Tudo bem que o som que ele faz não tem nadinha de novo, tem um “quê” da irmandade bregueira do Wander Wildner, mesclada com o classicismo romântico do Los Hermanos, resultando num som assim mesmo: nervoso até o talo, de tão romântico. Porém, o principal é que ele conseguiu nessa mistura plantar referências com talento e criatividade e o produto é isso: um puta disco!!

Ex-baterista de bandas como Beach Lizards, Autoramas, Acabou La Tequila e Matanza, podemos dizer que Nervoso é um fiel batalhador da cena roqueira carioca e, após anos de experiência segurando as baquetas em bandas onde o peso e a descontração se sobressaía, o cara ataca agora de cantor e compositor. Personalidade foi sua estréia em 2003, um EP redondinho, tendo como destaque O Bom Veneno, Mais Justo e Já Desmanchei Minha Relação, que também fazem parte do seu cd.

O EP tem sido recebido com alegria e elogios da crítica e público; eis que agora, em 2004, o roqueiro apaixonado lança seu primeiro cd, pela Midsummer Madness, num disco de belíssima capa, embalagem charmosa, parte gráfica criativa e num resultado que enche os olhos, que respira orgulho para quem gosta de boa música.

Saudades de Minhas Lembranças é Nervoso apresentando esta sua faceta, digamos, “malandramente romântica e punk”, encharcada de amor, dor de cotolovelos, canções oscilando entre o popularmente chamado brega, como em A Visita, e a influência da jovem guarda de Já desmanchei..., a beleza de junção de tudo isso com pegada mais dançante em "Que Martírio". O fato é que estas 12 canções, permeadas de um lado por amor, dor de cotovelo e lamentação , por outro lado, revela também uma veia criativa com melodias dosadas na medida exata, com criatividade e apelo popular, sem exagero, resultando numa combinação forte, chicletuda e, claro, gostosa de ouvir.

O disco ainda conta com a participação de Rodrigo Amarante em Mais Justo, e de cara, produz possíveis hits, sim, porque este rapaz irá alçar vôos bem altos, pode acreditar. A Visita, Clube da Luta, O Mala e Que Martírio, sem mencionar a já clássica Já Desmanchei Minha Relação.

"SAUDADES DE MINHAS LEMBRANÇAS"
1. Maus Limites
2. O Mala
3. Moça Mimada
4. A Visita
5. O Percurso
6. O Bom Veneno
7. Não Quero Dar Explicação
8. Que Martírio
9. Mais Justo
10. Já Desmanchei Minha Relação
11. Clube da Luta
12. Despedida Sem Fim
13. Pra Terminar
14. Fim de Tarde em Bangladesh

Contatos - + http://www.nervoso.art.br

Por Aldemi Sousa
publicado originalmente no Dissonancia.

quarta-feira, novembro 03, 2004

THEGOOD LIFE

THE GOOD LIFE

THE GOOD LIFE -The Album Of The Year - 2004

Tim Kasher, vocalista do Cursive, tinha toda razão quando a partir de 2000 resolveu dar vazão ao seu lado mais instropectivo e sentimental e botou pra rodar este projeto chamado THE GOOD LIFE .O novo disco, chamado THE ALBUM OF THE Year, além de Tim Kasher nas composições e interpretações, conta com a participação de Stefanie Drootin,Ryan Fox e Roger Lewis.Quem são? não faço a menor idéia, peguei no allmusic. O disco no todo cheira a pop, a melodias carregadas de estrturas baseadas na emoção, remetendo a Of Montreal e Beulah. Musicas simples, comparadas ao seu trabalho post rock do Cursive.Mais intimistas e à vantade,o disco derrama pop, canções por vezes parecendo acústicas, canções com forte apelo emocional, chicletudas mesmo.Resultado: ótimo disco. Prestem atenção em You´re Not You, Inmates e A New Friend.

1 Album of the Year
2 Night and Day
3 Under a Honeymoon
4 You're No Fool
5 Notes in His Pocket
6 You're Not You
7 October Leaves
8 Lovers Need Lawyers
9 Inmates
10 Needy
11 A New Friend
12 Two Years This Month

terça-feira, novembro 02, 2004

PUNKA BY RAFAEL

PUNKA 2004 – “Independência ou Morte”
Por Rafael Jr.( baterista da Snooze e participou de 5 das 8 edições do Punka. Comentários e feedbacks são bem vindos)

A oitava edição do terceiro maior festival de rock do Nordeste – fica atrás do Abril Pro Rock/PE e MADA/RN – aconteceu nos dias 22 e 23 de outubro com a melhor e maior estrutura já oferecida por esse evento que já faz parte do calendário cultural da cidade, mas que ainda é pouco valorizado pelo poder público local e surpreendentemente por muitos roqueiros sergipanos. A prova disso foi o furo da Prefeitura Municipal de Aracaju no custeio da estrutura de palco, som e luz (a mesma do Forró Caju) e o baixíssimo comparecimento do público no primeiro dia, gerando tensão e expectativa na produção até a hora do último show do segundo dia. Independente de eventuais falhas estratégicas do PUNKA, tá mais do que na hora de reconhecer o importante papel do evento na movimentação cultural da cidade e no fomento à produção artística, e isso se faz comprando ingresso ou patrocinando a parada (no caso das empresas e do Governo).

SEXTA 22 – Primeiro Dia

Tristre Fim de Rosilene
Na divulgação o horário era 18h, na programação interna a primeira das 10 bandas subiria ao palco 19h, mas o URUBLUES, que é da cidade de Itabaiana, só começou a tocar às 19:45h. Fora esse atraso, a produção no primeiro dia mostrou-se sincronizada, competente e a comunicação fluiu bem, fora o tratamento aparentemente adequado dado aos músicos e à imprensa. O lugar é enorme e tinha praça de alimentação, stands com material de algumas bandas, parede para escalada e na parte interna do Espaço EMES, onde normalmente rolam os shows nacionais de MPB, DJs se revezavam animando a moçada e uma pista de skate estava disponível. Cheguei cedo e encontrei logo o povo de Salvador: Luciano Matos e uma outra jornalista baiana, o pessoal do The Honkers e uma Ladra de Bicicleta, a produtora Grace. Logo depois os zineiros e bloggeiros locais Adelvan Barbosa, Lucas Passos e Cícero Aldemi. Um pouco mais tarde “tava todo mundo lá”, e não cabe ficar citando, né? Voltando ao URUBLUES, os caras são competentes no que se propõem – fazer blues rock nervoso e envenenado –, principalmente o líder e guitar hero Ferdinando, mas abrir o evento com um pingo de gente não foi tarefa das mais fáceis. Mesmo assim o som tava redondo e eles fizeram jus ao espaço conquistado no PUNKA. Na sequência a PLEASE NO! mostrou seu brega-punk-psicodélico, que pra mim funciona mais em disco porque não dá pra entender as letras direito no show, e isso é imprescindível pra poder rir das ótimas pagações promovidas pelos jovens mancebos caras-de-pau. Como resultado disso, os que já os conhecem se divertem bastante, e os que não sacam qual é a deles ficam boiando, sem entender direito o que tá se passando. Nesse momento eu já enxergava aquela movimentação típica de festival: troca de CDs, “toma aqui meu CD demo”, “vamos trocar e-mail”, “olha aqui meu cartão, vai lá no meu site”... Isso eu acho massa e sempre saio com a bolsa cheia de disquinhos coloridos novos pra me divertir nos próximos dias. OS ELOQUENTES tocaram em seguida para um público bem maior, e pude finalmente ver acontecer o que esperava há anos: os moleques amadureceram, a identidade foi encontrada, a malícia já tá no ar. Ainda falta a malvadeza de um Cachorro Grande (tem que buscá-la na mesma fonte: Stones, Kinks e The Who), mas já me empolguei, têm futuro promissor. Estão com disquinho novo na praça – vi iniciados indo atrás dessa bolacha – , empunhando uma semi-acústica linda e as gravatas estão no mesmo lugar, ou seja, tá tudo encaminhado! Agora tá difícil saber quem são os melhores sessentistas de Sergipe, Eloquentes ou Plástico Lunar? Aliás, alguém sabe porque a Plástico não tocou no evento?
Hora de HC tosqueira, ultra-rápido e engajado. A TRISTE FIM DE ROSILENE mostrou porque apavorou na Verdurada em São Paulo e chamou a atenção da galera do Ratos de Porão e Discarga, colhendo elogios de todos. Daniela (ex-Lily Junkie) está ótima nos berros à frente da banda, mas a atenção de todos sempre se voltam lá pro fundo do palco. A precisão de Tiago Babalu e a entrega total ao instrumento não me deixam dúvidas, é o melhor baterista de som extremo que essa cidade já pariu, e está a anos-luz do restante. Vê-lo tocar é instigante, o negócio é cabuloso de verdade, e espero que os amigos leitores tenham essa oportunidade um dia. Isso aqui é um tributo sincero a um amigo-irmão.
A primeira atração de fora do estado foi o LAMPIRÔNICOS, de Salvador. Eu não pude assistir o show direito mas me pareceu uma banda muito competente e profissional, com ótimos músicos. Fazem um baiock psicodélico interesante e agradaram. A SULANCA trouxe mais regionalismos e misturas rítmicas, e também agradou. O primeiro CD do grupo, “Megafone”, tá saindo do forno. Na verdade a banda não estava na programação inicial e foi chamada de última hora pra substituir o Mechanics de Goiânia, que não pôde vir por motivos obscuros pra este escriba. A WORDS GUERRILLA só tem camarada na formação e eu adoro o hardcore torto e inquieto da banda. A lenda viva do rock local Sílvio (da Karne Krua) tá sempre ousando e experimentando, e desta vez levaram um flautista de formação erudita pro palco. Dead Kennedys com Jethro Tull? Caralho, sempre me surpreendem, e não foi diferente com o disco novo e esse show. Na metade da apresentação eu precisei sair correndo pra tocar do outro lado da cidade, e perdi também os últimos três shows. Dos decanos do metal local WARLORD (sempre competentes), dos santistas do GARAGE FUZZ e dos paulistanos metal pesado TORTURE SQUAD, com vários discos e turnês européias nas costas. Soube depois que foram apresentações de qualidade, cada uma na sua praia, mas que o “Esquadrão da Tortura” reclamou o tempo todo de um monte de coisa e foram no mínimo deselegantes quando na Van que os levava de volta ao hotel um dos integrantes passou a falar mal do som dos Lampirônicos, sem saber que um deles estava ali presente, em sua frente. Que mico, hein? Será que uma banda tão rodada não aprendeu algo tão simples como ter humildade e respeito com outros artistas, mesmo que de estilo musical diferente?
Preciso agora abrir parênteses e pagar mais um tributo aqui. É pros caras do GARAGE FUZZ. Eu mantenho contato com eles há uns 9 anos e tenho os 5 CDs que lançaram (agora estão todos com os encartes rabiscados), sou fã incondicional do som e acho que reúnem todas as qualidades que considero legais numa banda de rock independente: atitude, humildade, competência técnica em estúdio e ao vivo, carisma e consciência clara do seu papel e dos seus objetivos dentro da cena. A estética é pura (não tem pose) e não há pretensões além de fazer o que se quer e se gosta. Já os vi em ação três vezes em festivais por aí (o Circadélica em Sorocaba foi um deles), mas os caras estavam pela primeira vez na minha área, na minha terra, e eu perdi o show! Eu tocava lá no outro lado da cidade, num bar de playboys, só me perguntando: “O que é que eu tô fazendo aqui?!?”. Quando a música torna-se trabalho e temos filhos pra alimentar podemos passar por coisas desse tipo. Com o dia amanhecendo, voltei pra casa triste e fui dormir com muita raiva. Até chorei, é verdade. Acordei três horas depois e toquei os 5 CDs do Garage Fuzz em ordem cronológica, no volume máximo, enquanto escrevia tudo isso sobre o primeiro dia do PUNKA. De noite tem mais rock.

SÁBADO 23 – Segundo Dia (ou “A Invasão Baiana”)
The Honkers
No segundo dia cheguei ao Espaço EMES bastante atrasado, então perdi os shows do SAMBACAITÁ (vencedora do Pré-Punka e agraciada com a única vaga para bandas iniciantes) e FAMÍLIA ATIVISTA, combo formado por rappers da periferia de Aracaju realmente engajados no movimento hip hop local e em atividades sociais. O grande destaque sempre é Ganso – também conhecido como Hot Black ou Preto Quente –, figura carimbada e carismática que já está acostumado a participar em shows de rock daqui e que manda muito bem nas rimas e improvisos. O público que encontrei já era muito maior que o do dia anterior, e tava chegando muita gente o tempo todo. A EFFE (antiga Fluster) se preparava pra começar a tocar e fui ver seu emo nervoso e honesto. Eles vivem esse tipo de música no seu dia a dia e o fazem com propriedade e competência, mas a verdade é que o som não tava nada bom e o vocalista meio perdido. Mesmo assim a garotada curtiu e o CD que acabaram de lançar vendeu feito banana na feira. Eu mesmo levei o meu e tenho ouvido bastante. Os topetudos-garageiros do THE HONKERS se preparavam no outro palco e eu sabia que vinha coisa boa, porque já os conhecia de shows em Salvador e li muita coisa sobre as presepadas e peraltices do vocalista. Dito e feito. Rodrigo Sputter cuspiu cerveja na galera, escalou as estruturas do palco e subiu no PA, enfiou o microfone no saco, rebolou, destruiu o chão do palco e os pratos do baterista, se machucou e com certeza se divertiu muito. E se cansou (“tô ficando véio!”). A trilha sonora do espetáculo era psychobilly, garage rock malvado, ska e guitarras punk muito altas. O astral do lugar mudou, o povo chegou perto pra aplaudir, os sorrisos apareceram na cara das pessoas. Isso é rock!!! Dimmy Drummer ainda me disse que estão lançando 3 discos simultaneamente pela Ordinary Recordings/SP, corra atrás que é biscoito fino dos porões baianos!
O duo LACERTAE, da cidade de Lagarto, entrou em seguida e me hipnotizou mais uma vez com os experimentos e peças (são mais que simplesmente “músicas”) do maravilhoso “Berimbau de Cipó Imbé”, discoteca básica sergipana pra sempre. Deon e Tacer sempre têm problema com o som nos festivais, mas dessa vez foi diferente, tava massa. O disco novo vem aí com participações de Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) e do baterista Curumim, que toca com Arnaldo Antunes. Tudo sob a produção de Buguinha Dub, que já trabalhou com Nação Zumbi, Cordel e Racionais MC´s. Também estão com shows marcados no sul do país e no exterior.
Próxima atração: VAMOZ!, de Recife. Como amigo de longas datas e apreciador das melodias do Marcelo Gomão (bem como dos acordes que emanam da sua Fender Jazzmaster), sou meio suspeito pra falar desse trio pernambucano que toca sem baixo (são 2 guitarras e bateria). Mas era só ter olhos e ouvidos pra ver e ouvir que foi um grande show, perfeito! Rock duro com doçura, riffs do AC/DC e do mestre Neil Young, comunicação perfeita com o público, ecos de Dinosaur Jr, um guitarrista com cara de nerd que é engenheiro e constrói os próprios pedais, um técnico de som que faz a diferença (é o quarto membro), um batera surfista que bota as menininhas pra dançar e bater cabeça... Rock, rock, rock! Só não foi 10 mil vezes rock porque trocaram o microfone do Gomão, aquele que o Rodrigo do The Honkers colocou no saco (hehehe).
Nessa hora vi uma briguinha boba prontamente controlada pelos seguranças e mais tarde soube que roubaram o carro de um amigo nosso do lado de fora, com instrumentos na mala. Tocaram fogo no veículo! Acho que esses foram os únicos incidentes ocorridos durante o festival, o resto foi 100% paz e tranquilidade.
O reggae arrastado da OGANJAH quebrou o clima e eu fui nos stands, no Punkatronics e nos camarins, onde rolava a brodagem entre as bandas e as entrevistas para a Rádio e TV Punka. RONEI JORGE & OS LADRÕES DE BICICLETA completou o que chamei de “Invasão Baiana em Terras de Serigy”, um showzaço de poesia visceral com parede sonora de Rickenbackers e Gibsons, um rock torto com muitos compassos ímpares e um pouco de samba também. A resposta do público foi instantânea e os gritos de “mais um” no fim foram fortes e altos, os mais potentes do festival, isso deve ter sido compensador para essa grande banda. Eu me aprontava no outro palco pra fazer a ultima apresentação antes do Los Hermanos, repetindo o que aconteceu no Goiânia Noise uns 2 anos atrás. Acho que a SNOOZE fez um bom show, mas não foi nada assim tipo “uma grande performance”. Fiquei feliz de ter tido duas participações mais que especiais, a do gaitista Julinho Vasconcelos que gravou no nosso disco novo e do Rodrigo Honkers que cantou “The Kids Are Allright” do The Who com Clínio Jr e Marcelo. Infelizmente não conseguimos trazer Fabinho de Sampa pro Punka (rimou), mas nosso mais novo fiel escudeiro estava lá segurando a onda, o grande papai Duardo.
Pra mim o festival acabou aí, porque começou a acontecer alguns problemas nos bastidores e tudo em relação ao Los Hermanos era diferenciado. Isso é normal com bandas maiores, mas não precisa coisas do tipo “evacua a área”, “ninguém entra e ninguém passa”, “não pode isso, não pode aquilo”. Um saco, mas nêgo engolindo tudo. Entendo essas paradas de produção e contratos e não vejo problema nas coisas que têm que ser feitas pro show deles fluir bem, comigo tá tudo certo. Mas outras pessoas trabalhavam na área atrás do palco e precisavam ter acesso aos camarins, pegar seus equipamentos, etc. Estou falando de músicos e roadies anteriormente credenciados para o acesso e não de fãs querendo autógrafos. Quero deixar claro que não é nada com a banda (até acho-os simpáticos e simples), adoro o som deles e tenho os discos em casa, também não sei de quem foi a culpa (até hoje não deram explicações, e também não adiantaria mais) mas imagino que foi falta de experiência da produção – que aliás nessa hora sumiu do mapa – no trato com artistas de maior porte. Eu gostei bastante do show dos los barbudos, apesar de ter sido um pouco morno e lento demais, muito MPB e pouco rock na verdade. Porém estão tocando melhor e as músicas falam por si só,são muito bonitas.
SNOOZE
E assim acaba a historinha de 2 dias que eu tinha pra contar pra vocês. No Domingo não pude ir no futebol de praia das bandas, mas espero que os baianos tenham perdido na bola pelo menos, já que no palco o jogo BahiaXSergipe deu Bahia na cabeça, isso eu tenho que admitir! Fazendo uma análise geral, quem ganhou foi o público que pôde ver uma amostra do melhor da produção independente nacional num evento quase impecável que teve o maior dos problemas que produtores (nesse caso, amigos meus) podem ter: falta de lucro! Pois é, o bom público do segundo dia não salvou a pátria nem virou o jogo, mas deu pra pelo menos empatar os custos, pagar as contas. Não sei se estão julgando o trabalho de vários meses compensado, mas de qualquer forma espero que não desistam da empreitada, senão essa cidade vai ficar fosca o ano inteiro, já que pra mim ela brilha 1 vez por ano com o PUNKA. O negócio é rever conceitos, identificar e reconhecer falhas, enxugar custos e manter o nível da programação. Ainda dá pra domar o monstro que criamos ou ele vai nos engolir?

ATRAÇÕES PARALELAS
O Punkatronics e o “Espaço Garagem” foram atrações à parte, paralelas aos shows. Não acompanhei direito o revezamento dos DJs mas deu pra notar – e também comentaram comigo – que a galera que tocou rock nas pick-ups agradou mais do que os DJs de música eletrônica propriamente dita. Matanza e Gus são ótimos com drum´n´bass, mas quem agitou mais foi o snoozer Clinio Jr com Bruno Montalvão e sua seleção “fillet mignon” ou “creme de la creme” do indie rock 90´s, e o Dr. Estranho com seus vinis raros de música brasileira e black music da década de 70. Cool!
Já no “Espaço Garagem” tivemos uma intervenção por dia. Na sexta a banda de grind/crust core DA BOCA AO RETO, antiga MERDA DE MENDIGO (ói Babalu de novo na área!), plugou os amplis e tocou no chão, sem palco ou som, com a bateria acústica. Podreira total! No sábado a Orquestra de Baterias idealizada pelo brasiliense Dino Verdade em São Paulo e liderada aqui pelo professor Oscar do Bateras Beat arrebentou, empolgando o público com a força tribal de 5 baterias tocando ao mesmo tempo uma peça bastante interessante.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS
Pontos Positivos:
· Estrutura de primeira, com o melhor em palco, som e luz.
· O time de atrações do evento foi de alto nível.
· O atendimento ao público, sem filas e com equipe de segurança competente.
·Horários dos shows respeitados. Os atrasos iniciais foram dentro de uma normalidade tolerável.
· O profissionalismo de todas as bandas.

Pontos Negativos:
·Estrutura gigantesca demais (quase megalomaníaca) para um festival independente. Encareceu o evento e talvez não precisasse tanto aparato assim.
·Falta de um local para guardar os instrumentos. Depois de se apresentar, a banda tinha que esvaziar o camarim e “se virar”.
·A ridícula proibição repentina do acesso dos músicos aos camarins, por conta da entrada e saída do Los Hermanos do palco. Só queríamos pegar nossos instrumentos. Autógrafos e barbas são com a garotada. De onde veio a ordem é um mistério, ninguém sabe!
·Stand de CDs bem pobre, sem muita variedade. Parece que não era só querer colocar a venda, tinha algum tipo de burocracia ou até aluguel. Nunca vi isso em festival nenhum, simplesmente lamentável!


RAIO X DO FESTIVAL
- 20 bandas em 2 dias, 2 palcos, 4.000 pessoas (1.000 na sexta e 3.000 no sábado)
- Divulgação: TV Globo local, FM, Outdoors e panfletos em papel couche que pareciam mini-cartazes.
- Melhores shows: Garage Fuzz/SP na sexta, The Honkers/BA e Vamoz!/PE no Sábado
- Revelações: Eloquentes, Triste Fim de Rosilene e Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta/BA
- Figura do Festival: Rodrigo Sputter, do The Honkers
- Faltas Sentidas: Plástico Lunar, Maria Scombona, Vallium e Mechanics/GO
- Hype: Vinis setentistas do Dr. Estranho e Orquestra de Baterias
- Melhor Cover: Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta com “Paralelas”, hit de Belchior com a cantora Vanusa nos anos 70
- Maiores Micos: Encontros e desencontros da produção no segundo dia e prepotência e arrogância da Torture Squad na Topic.
- Recordista de Shows: Tiago Babalu, 4 vezes (Please No!/Triste Fim de Rosilene/Effe/Da Boca ao Reto). Fi da peste, bateu meu recorde!
- Recordista de Vendas: Effe, 90 discos em 2 dias!Decepção: O recuo da Prefeitura Municipal de Aracaju no patrocínio .


Rafael Jr é baterista da Snooze e participou de 5 das 8 edições do Punka. Comentários e feedbacks são bem vindos.

segunda-feira, novembro 01, 2004

NEW

Eitta que já faz um tempinho que não atualizo o blog.Foram tantas coisas boas que aconteceram no PUNKA: ótimos shows, chuva de discos que recebi e a consolidação de ótimas amizades(Luciano, Greice e Rodrigo) e o começo de novas e boas amizades(Gabriela e cia).Valeu pessoal, é isso o que alimenta!!!.
# Fiz meu textosobre o Punka e será publicada no Coquetel Molotov.
# Ainda sobre o punka, dois ótimos textos saíram no Elcabong, Egolatria e Claque
# Quem aí gosta de Felt? hehehe.. saudosos anos 80.Eis aqui uma ótima entrevista dos camaradas, dica do Gilberto Custódio Junior.
#CD pra resenhar? Estou com uma enxurrada: Pedro p 78 , Elouquentes , Please No! , Effe , A Grande Abóbora, Snooze (single) , Frank Barajas, Kings Of Convenience, The Thrills, The Good Life....é esperar e ver se consigo resenhá-los.
# Quero agradecer ao amigo Cristiano pelo excelente pacote de cd que me enviou:
* The Wannadies “Before & After”;
* Hefner “Dead Media”;
* To Hell With Burgundy “Earthbound”;
* Moloko “Statues”;
*10.000 Maniacs “Hope Chest – The Fredonia Recordings 1982-1983”;
* Chappaquiddick Skyline + Relaxed Muscle +Magnet;
*Superstar “Palm Tree” + “Greatest Hits Vol. I”.
# Coletâneas de Setembro e Outubro do site do Wiencis:
October 2004 Mix
01 frank black - whatever happened to pong?
02 pixies - wave of mutilation
03 cracker - happy birthday to me
04 the muffs - really really happy
05 the charms - candy
06 visqueen - blue
07 les savy fav - who rocks the party
08 my favorite - go kid go
09 liz phair - supernova
10 eggstone - still all stands still
11 the loud family - such little nonbelievers
12 pretenders - time the avenger
13 crash test dummies - afternoons & coffeespoons
14 tom waits - i don't wanna grow up
15 mary prankster - new tricks
September 2004 Mix
01. loose - dear nora
02. air - the owls
03. the planeiac - palomar
04. you were not meant for me - charming
05. little white lies - the fairways
06. chosen one - the cannanes
07. the stranger's mirror - the bevis frond
08. since you've gone - laurel music
09. where's the boy that i once knew? - flare
10. teenage fbi - guided by voices
11. places that are gone - tommy keene
12. mr. wrong - cracker