quinta-feira, novembro 25, 2004


8ª Edição do FESTIVAL PUNKA - 22 E 23/10/04 - Espaço EMMES – ARACAJU/SE
(publicado também no Coquetel Molotov)

Eitta que o Punka já deixa suas marcas: orgulho e alegria destes dias 22 e 23 de Outubro.Como canta a Sulancapisa maneiro, quem não pode com a formiga, não mexe no formigueiro”, realizar este festival numa árida região onde prevalecem as efemeridades musicais, tem que ser uma galera “arroxada” para meter a cara e arriscar. Tem que ter muito amor pra peitar um evento destes, tem que ter muito espírito rock para fazer uma caravana de Salvador para cá, tem que ter muito amor pra compor “Veja Só” do Ronei Jorgen& Os Ladrões de Bicicleta, tem que ter muito amor para curtir e apresentar-se como o Rodrigo Sputter, vocalista do The Honkers, tem que ter muito amor para durar mais de uma década fazendo noise pop de qualidade como a sergipana Snooze e tem que ter muito amor para tocar em quatro bandas durante todo festival como o Babaloo(Triste Fim de Rosilene, Please No!, Da Boca ao Reto e Effe).

O EVENTO

Foram dois dias de celebração.Celebrando com hardcore, heavy metal, trash metal, punk brega, sixties, mod, yê yê yê, guitar band, noise, muito noise, rock garageiro, blues, mangui hits, stoner rock, power pop e até pista de dança............resultado: foi PUNKA cara!
Amparados por uma estrutura digna de grandes festivais, o festival disponibilizou dois palcos, conjugados, onde as bandas se revezavam , aparelhagem de som de primeiro time (o que só contribuiu para as performances), praça de alimentação, espaço para esportes radicais, stands de vendas de cds/afins e o espaço para o Punkatronics, ou seja, pista de dança onde rolou de tudo um pouco, destacando o indie rock que comeu solto. Enfim, todo o aparato para o conforto prometido, fielmente cumprido.

O primeiro dia, 22, foi dedicado, em sua maioria, as porradas hard/metal. Cercado de expectativa e ansiedade, vou para o festival armado de alegria e disposição.No primeiro dia, quem abre as apresentações é a banda Urubules, de Itabaiana-SE, com um som coeso e forte, jorram riffs musculosos de guitarras numa apresentação que encheu os olhos pelo feeling e sinceridade. Ponto para o blues.Na seqüência, PLEASE NO! e o seu brega/punk, o brunk, que eu tanto ansiava ver ao vivo, já que o primeiro EP dos cachaceiros eu já havia escutado e gostado. Apesar da aparelhagem de som do evento está boa, a apresentação não me empolga muito, não sei ao certo, mas ficou a impressão de que não entendia nada do que o vocal cantava, mas o trabalho dos “cabas” é bom e tem tudo pra evoluir mais ainda.Os rapazes estão com cd novo na praça, intitulado “ 5 Reais Pra Fazer Caridade”

Logo após veio ELOQUENTES, com certeza a maior revelação deste festival, simpáticos e um tanto tímidos, chamaram atenção pela qualidade de suas melodias, sixties com um pé no mod e recheado de amor. Muito bom mesmo, remetem direto àquelas bandas gaúchas que adoram rock sessentista. No show,aproveitaram para divulgar seu primeiro cd “Sistema Nervoso”.

E neste clima de canções de amor....fui logo me preparando para o show do Triste Fim de Rosilene. Hehehe, tratei logo de avisar aos amigos soteropolitanos:”se preparem que agora é porrada”. Dito e feito. Hardcore sem frescura e nem burocracia.... é ligar os aparelhos e sentar o pé. Daniela, a vocalista, é o tempero ideal pra combinar com a barulheira. É barulhento, esporrento, com um baterista que um é rolo compressor. Faz um bem danado, desopila mesmo. Adorei o show.

Ainda tonto após o show do TFR, vi subir ao palco a banda baiana LAMPIRÔNICOS, que fez um bom show, bela presença de palco do vocalista, som forte e ritmado. Não chega a me empolgar, mas que foi um bom show, isso foi.E é bom perceber a evolução presente no novo trabalho deles. E, dando seqüência aos ritmos regionais, quem se apresenta é o SULANCA , conhecido e histórico grupo de musica regional, que embala ritmos tradicionais de Sergipe num formato pop e animado. A apresentação foi em alto astral, as canções animadas, dançantes. O show ainda teve a participação do Agapito, folclórica figura, numa espécie de jam session.

Aí veio o tipo de porrada que não me chama muito a atenção, metal clássico adicionado de protesto: WORDS GUERRILLA e WARLORDS. A performance é eficiente, ambos são grupos históricos no rock sergipano, mas não chegam a me animar. Merecem todo o respeito pelo trabalho e pela batalha que é o rock por aqui.

Daí veio o GARAGE FUZZ, um dos shows mais aguardados pelo punka em suas cinco edições, são verdadeiros monstros do hardcore nacional, com vários anos de estrada e, principalmente, respeito do público e crítica. E a estrada gerou segurança e maturidade.Com uma apresentação firme e animada, desfilaram seu hardcore, típico de quem gosta do verdadeiro hardcore, terra onde o Fugazi é um rei. E o GARAGE FUZZ é da mesma escola, com bastante sinceridade e inspiração. Já eram mais de três da manhã, quando sobre ao palco o metal do TORTURE SQUAD. Cabelos enormes, roupas pretas, cozinha poderosa...sim, este é o metal.

Veio então a segunda noite e com ela aconteceram os melhores shows: SAMBACAITÁ, vencedora do PRÉ-PUNKA (que selecionou uma banda novata pra tocar) abriu a noite, com seu som mangue bit advindo de Chico Sciente/Mundo Livre aditivado com reggae, cujo resultado ainda não empolga, talvez por soar demasiadamente como as influências, talvez pelas letras ainda soarem pueris, o fato é que os garotos ainda têm uma longa estrada a percorrer. O rap da FAMILIA ATIVISTA vem na sequência, que me agrada pela agitação das canções, belos scratchs e letras engajadas. Depois veio EFFE....trilham na cartilha do Emocore, são garotões, trilhando a mesma estrada de um monte de bandas por aí a fora. E este é justamente o problema.O show foi bom, faltando ainda aos rapazes injetarem um gás pessoal para acharem uma cara deles.

Foi então que tivemos inicio ao show dos baianos do THE HONKERS. Tirando o topete e vestimentas pró-rock de Rodrigo, dignas um roqueiro inglês, os camaradas passariam despercebidos como pessoas normais. Porém, de normais eles não têm nada. Basta o show começar para termos a certeza que estamos presentes a uma banda que entende e aplica os preceitos do verdadeiro espírito rock and roll: diversão em larga escala. Mais do que isto, eles se divertem, executando um show garageiro, virulento, energético. Malandro, que é isso?! A energia toma conta da platéia fazendo-as agitarem , naquele que foi o show com maior participação da platéia, excetuando-se é claro os LH. Rodrigo Sputter é um show á parte. Misto de frontman e platéia, há momentos em que achamos que o público é ele mesmo, tamanha alegria e despojamento. Tem presença de palco, espírito rock, canta bem e claro.....tem peso: furou até o palco. Coitado dos Los Hermanos, não sabem onde Sputter passou o microfone que eles usaram em seu show.......

É a vez do LACERTAE, os lagartos sergipanos sempre foram conhecidos pela criatividade e experimentalismo e foi com isto que nos brindaram em seu show. Nunca tinha visto um show deles, e gostei. Bonito ver a qualidade e o volume do som que apenas dois caras conseguem fazer. Foi o primeiro show após as gravações do seu segundo cd. Foi então que veio a VAMOZ, provando com seu show o já alardeado no seu disco: rock fodão, stoner rock, guitarras ferozes e melodias fortes. Belíssimo show, possuem uma técnica muito eficiente. Foi bonito ver uma galera de frente para o palco acompanhando e cantando as canções do disco. “Letter “ e “Beside” foram as minhas prediletas. OGANJAH....caramba, infelizmente não ouvi muito,pois tive que sair.

Mas, voltei a tempo para ver os preparativos para o início do show do Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.Caramba, que show, que apresentação, dava pra perceber o quanto o Ronei estava feliz em tocar, ainda mais em tocar em Aracaju. A música salta aos olhos e ele deixa-se levar pela emoção e prazer que é estar no rock. Sem mencionar que a cozinha do Ronei Jorge é excelente, destacando o guitarrista. Só fiquei na vontade de que ele reprisasse “Veja Só”, “Obediência” e a cover de “Paralelas” do Belchior. Prestem atenção nesta banda.

Foi a vez da SNOOZE. Verdadeiros ícones do guitar/noise de Sergipe, o show é resultado de tudo que andam fazendo atualmente e que pode ser conferido no single que foi lançado no festival. Com o noise pop ainda mais afiado, interagindo ainda mais com o power pop e até com gaitas, tudo diluído com eficiência e inspiração, resultando em pérolas como “Fado”. O show foi bem animado, a banda está mais a vontade no palco, o que fortalece a execução de hits como “My Gramophone”, “Coming Up Stairs” e “Fado”, destaque para a jam da banda com Rodrigo Sputter, na cover do THE WHO. Longa vida para os camaradas, logo logo teremos disco novo deles, ueba!!!

Com o público empolgado e a esta altura bem numeroso, o Los Hermanos faz uma apresentação recheada dos seus hits religiosos, daqueles cantados numa voz apenas pelos fãs. Destaque para “Santa Chuva”, que ficou conhecida na voz de Maria Rita.

Beleeeeza...Assim a banda Los Hermanos encerrou a segunda noite e também a oitava edição do Punka, festival destinado a abrigar artistas independentes e que neste ano teve como marca registrada a qualidade das bandas e a competência dos organizadores, gerando um evento de altíssimo nível. Foram mais de 5 mil expectadores, mais de vinte bandas e no final um largo sorriso: valeu a pena, deixando a certeza que ARACAJU merece sim estar na rota dos grandes festivais.